por outros sentidos

tem um arco-íris pingando no céu e enquanto isso os pássaros mergulham. ontem a borboleta azul que não me encontrava há vinte anos deu de aparecer entre os dedos da mangueira. o arco-íris pinga leve leve no céu, espalha pouco as cores, mas os pássaros, mergulhando, colorem tudo. meio rápido e instantâneo, mas colorido. ontem vi a notícia de que o nosso cérebro se encarrega de preencher todas as lacunas em preto e branco quando alguma coisa colore trechos da superfície imagética - quem dera o mundo a paisagem o lugar fossem só imagem, quem dera Miltão não tivesse me ensinado a usar outros sentidos na percepção da vida, quem dera Xanda não tivesse perguntado sobre o cheiro do centro da cidade. quem sabe se o cérebro se encarrega de preencher silêncios. quem é que sabe se os pássaros tem medo de voar ou se já nascem corajosos gastando a onda no céu. quem é que sabe se uma hora ou outra se aprende a ter coragem. a borboleta desvia as gotas de chuva ou as suporta? de longe parecem tão frágeis. jamais diria que as suportam. ai, as aparências! mas até ontem eu nem sabia que elas andavam na chuva. onde será que se escondem as borboletas? (...) o rubro apareceu no céu. vou testemunhar o incêndio.