top of page

me tirando para dançar

hoje tem festa aqui em casa. é noite de festa. enviei aquele texto que adiava há dois meses e meio, aquele que só anteontem consegui ter forças pra escrever. eu amo escrever, é como um gozo ou coisa do tipo, mas, as vezes, quando eu já pensei já maturei já entendi aquela coisa é como se de algum modo eu regurgitasse. não quero, pego ranço, me enguia. não quero mais. é um enjoo mesmo. preciso sempre escrever muito rápido antes que desista, que eu me canse daquele assunto. ironicamente voltar no texto, rever, editar, repetir é uma das partes que mais me agoniam. é como se eu quisesse vomitar, aff… mas o irônico disso é que na vida eu vou e volto vou e volto vou e volto na coisa pra ter certeza de que tô fazendo o “certo” ficando ou indo embora. como se fosse possível medir “o certo” em tempo. essa coisa da repetição vem desde cedo quando mainha mandava eu varrer a casa duas vezes porque não tava como ela queria, detesto. agora, por exemplo, já to enjoando de falar sobre isso e me vem à cabeça o complemento pra’quele texto que tava escrevendo antes da pizza chegar. achei até que tava pronto e só faltava dar um saque antes de publicar, mas pelo visto não. vou ter que voltar nele. merda.


a maioria das coisas que escrevo aqui não edito, nem adiciono nem recorto — só se seu perceber algo absurdo demais ridículo demais patético demais e tiver disposição pra tirar, porque na maioria das vezes que isso acontece jogo logo tudo fora. tudo no lixo. igual ao amor em excesso de karina buhr. é como se eu não tivesse receios de desperdiçar o que escrevo. tá aí, se tem uma coisa que não economizo é nessa coisa de ficar escrevendo. mas também nem sei se faz sentido falar em desperdício de pensamento no papel. acabei de lembrar o nome do livro de karina, “desperdiçando a rima”. eu gosto dela, tem uma música mesmo que adoro, diz assim “a gente pula contra a vontade do chão”. parece dizer quase nada e diz tanto. adoro.


mas eu queria mesmo dizer com esse texto é que hoje é festa aqui em casa. é noite de festa. enviei aquele texto que eu adiava há dois meses… ai, lá vem eu com a repetição. quase. quase repeti. ou repeti, sei lá. mas vou contar. entreguei o texto e tô me sentindo livre agora pra escrever o que eu quiser. é como se agora eu tivesse feito a lição de casa e pudesse me divertir, ganhar o lanche. é noite de lua cheia e tô disposta pra o amor, já faz é tempo. disposta e disponível, isso é novidade. e gosto dessas duas palavras juntas porque elas criam a sensação de que vão dizer a mesma coisa, se repetir, mas os sentidos são completamente diferentes. disposta diz sobre estar com vontade de. disponível diz sobre poder fazer o que se tem vontade. comigo na maioria das vezes é uma ou outra. no caso, disposição pro amor eu tenho quase sempre, mas disponibilidade, minha amiga, aí é coisa rara. agora mesmo tô me perguntando se estou realmente disponível ou se é um lapso hiperbólico de lua cheia. um dia desses uma menina, linda essa menina, com quem eu conversava e parecia que engataria alguma coisa entre nós — digo parecia porque, sei lá, tenho a sensação de que aconteceu um desencaixe mesmo que nada tivesse acontecido, sabe? enfim… — ela me falou assim: “estou disponível e disposta a te encontrar”. eu me lambuzo nas palavras, acho que já falei disso aqui, e quando ela disse isso me senti inundada porque é exatamente o sentido que gosto de dar aos encontros: disposição e disponibilidade. essas duas palavras juntas. naquele momento talvez eu tenha quase me apaixonado. e eu gosto também dessa coisa que é quase paixão, que é beira. ontem mesmo eu quase me apaixonei, passei a noite beirando o mar. quase mergulhando.


ih, eu me perdi. mas eu queria mesmo dizer com esse texto é que hoje é festa aqui em casa. é noite de festa. enviei aquele texto. é isso. enviei e tá bom, é suficiente, não vou falar do que se trata, nem o quanto eu gosto do assunto sobre o qual eu vinha escrevendo nesses últimos dois dias que me deixaram com olheiras tipo as da irmã dulce. será que meus olhos estão assustadores como os das pinturas que fazem dela? vou parar por aqui senão vou ter que explicar detalhes e certamente não vou dar conta de driblar a repetição. eu to repetindo repetindo repetindo repetindo repetindo …


a festa! tem vinho, queijo, pizza de calabresa, luedji na caixa de som (eu finalmente carreguei a caixa de som), coloquei uma camisa de botão e to me sentindo bem bonita, mesmo com as olheiras possivelmente assustadoras. a camisa é vermelha com flores brancas, fecha até em cima, eu gosto assim. embaixo tô com parte de uma roupa de dormir, a parte de tapar os peitos eu perdi nessa coisa de viver em duas casas. mas não, não quero me perder de novo, já tô ficando realmente enjoada desse texto. o que eu realmente queria dizer é que eu, hoje, me tirei pra dançar. que é noite de festa aqui em casa e que me sinto disponível e disposta pro amor. queria descrever a festa, a música, o deleite. mas já tô tão enjoada desse texto que não consigo adicionar mais nenhuma palavra. vou abrir um novo documento.



de novembro de 2020.

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

a escrita da mulher negra e sua urgência

a escrita da mulher negra, não raro, é marcada pela pressa. não a pressa de acabar, mas a pressa de viver, de entender, de existir na escrita. é como se vivêssemos tanto sob a ameaça de apagamento que

o dono do lugar e da cena

desde que li “olhares negros: raça e representação” de bell hooks dei uma virada no modo como analiso as produções artísticas negras e sobre a população negra. a essa altura já ouvia um pouco mais os

bottom of page